tag:blogger.com,1999:blog-12250658778908640642024-03-21T08:45:57.900-07:00Versos EscolhidosMirandahttp://www.blogger.com/profile/13900647497462195491noreply@blogger.comBlogger35125tag:blogger.com,1999:blog-1225065877890864064.post-16342573193197292412007-09-13T06:09:00.000-07:002007-09-13T09:45:45.889-07:00Cada um VIve como Quer<p align="justify"><span style="font-style: italic; color: rgb(255, 0, 0);"><span style="font-weight: bold;">"Cada um vive como quer" </span></span><span style="font-weight: bold; color: rgb(255, 0, 0);">diz o filme do velho Nicholson, bem ali, escancarado na prateleira da locadora, mostrando uma face surrada pelo trabalho, mas muito reflexiva. Eu a loco, quero saber exatamente do que se trata, afinal, conta com Jack Nicholson e Karen Black, que estão em <span style="font-style: italic;">Sem Destino</span>. Nicholson é um exímio pianista, que larga tudo, inclusive a casa de seu pai, para viver vagando em empregos medíocres e mulheres quaisquer que o queiram (a do momento é Karen Black), e quando a coisa aperta, ele simplesmente larga tudo e vai procurar outra vida.<br /></span></p><center><a href="http://xs.to"><img src="http://xs119.xs.to/xs119/07374/five1.JPG" title="Free image hosting powered by xs.to"></a></center><p align="justify">É, amiguinho, parece ser a atitude de um covarde, mas para mim, parece ser atitude de um homem livre, que não liga para o que os outros sentem se apenas sua ausência os magoa. Um homem que não quer as suas perspectivas, que aceitou a vaga de espectador, enquanto deleita-se quando quer do máximo e único prazer que um homem necessita: os avanços perfumados de uma linda mulher.</p><p align="justify"><span style="font-style: italic;"><span style="font-weight: bold;">É claro que o filme deixa subentendido que ele procura por algo que nem mesmo descobriu ainda o que é, mas isto não importa. O que importa é que eu pareço um babaca comparando minha vida "terceiromundana" com a vida de um personagem de cinema setentista. Deveria me contentar em trabalhar dez horas por dia, estudar quatro, correr de assaltante e ainda consumir o resto de comida que não conseguem exportar?</span></span></p><p align="justify"><span style="font-style: italic;"><span style="font-weight: bold;"><span style="font-size:130%;">Ou deveria procurar a nova versão de liberdade que está tão em voga entre os jovens da atualidade? Ecstasy, maconha e um homossexualismo vigente entre a elite que se vê copiada e acompanhada de perto pelos fãs pobretões que trabalham a semana inteira por uma pitada de coca, e uma calça da gang...<br /></span></span></span></p>Mirandahttp://www.blogger.com/profile/13900647497462195491noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1225065877890864064.post-71805078783377410222007-07-09T18:22:00.001-07:002007-08-20T21:04:21.825-07:00A Menina de Lá<br />(João Guimarães Rosa )<br /><center><a href="http://xs.to/"><img src="http://xs118.xs.to/xs118/07342/paisa_gem.gif" title="Free image hosting powered by xs.to" /></a></center><br /><br /> Sua casa ficava para trás da Serra do Mim, quase no meio de um brejo de água limpa, lugar chamado o Temor-de-Deus. O Pai, pequeno sitiante, lidava com vacas e arroz; a Mãe, urucuiana, nunca tirava o terço da mão, mesmo quando matando galinhas ou passando descompostura em alguém. E ela, menininha, por nome Maria, Nhinhinha dita, nascera já muito para miúda, cabeçudota e com olhos enormes.<br /><br /> Não que parecesse olhar ou enxergar de propósito. Parava quieta, não queria bruxas de pano, brinquedo nenhum, sempre sentadinha onde se achasse, pouco se mexia. – "Ninguém entende muita coisa que ela fala..." – dizia o Pai, com certo espanto. Menos pela estranhez das palavras, pois só em raro ela perguntava, por exemplo: - "Ele xurugou?" – e, vai ver, quem e o quê, jamais se saberia. Mas, pelo esquisito do juízo ou enfeitado do sentido. Com riso imprevisto: - "Tatu não vê a lua..." – ela falasse. Ou referia estórias, absurdas, vagas, tudo muito curto: da abelha que se voou para uma nuvem; de uma porção de meninas e meninos sentados a uma mesa de doces, comprida, comprida, por tempo que nem se acabava; ou da precisão de se fazer lista das coisas todas que no dia por dia a gente vem perdendo. Só a pura vida.<br /><br /> Em geral, porém, Nhinhinha, com seus nem quatro anos, não incomodava ninguém, e não se fazia notada, a não ser pela perfeita calma, imobilidade e silêncios. Nem parecia gostar ou desgostar especialmente de coisa ou pessoa nenhuma. Botavam para ela a comida, ela continuava sentada, o prato de folha no colo, comia logo a carne ou o ovo, os torresmos, o do que fosse mais gostoso e atraente, e ia consumindo depois o resto, feijão, angu, ou arroz, abóbora, com artística lentidão. De vê-la tão perpétua e imperturbada, a gente se assustava de repente. – "Nhinhinha, que é que você está fazendo?" – perguntava-se. E ela respondia, alongada, sorrida, moduladamente: - "Eu... to-u... fa-a-zendo". Fazia vácuos. Seria mesmo seu tanto tolinha?<br /><br /> Nada a intimidava. Ouvia o Pai querendo que a Mãe coasse um café forte, e comentava, se sorrindo: - "Menino pidão... Menino pidão..." Costumava também dirigir-se à Mãe desse jeito: - "Menina grande... Menina grande..." Com isso Pai e Mãe davam de zangar-se. Em vão. Nhinhinha murmurava só: - "Deixa... Deixa..." – suasibilíssima, inábil como uma flor. O mesmo dizia quando vinham chamá-la para qualquer novidade, dessas de entusiasmar adultos e crianças. Não se importava com os acontecimentos. Tranqüila, mas viçosa em saúde. Ninguém tinha real poder sobre ela, não se sabiam suas preferências. Como puni-la? E, bater-lhe, não ousassem; nem havia motivo. Mas, o respeito que tinha por Mãe e Pai, parecia mais uma engraças espécie de tolerância. E Nhinhinha gostava de mim.<br /><br /> Conversávamos, agora. Ela apreciava o casacão da noite. – "Cheiinhas!" – olhava as estrelas, deléveis, sobrehumanas. Chamava-as de "estrelinhas pia-pia". Repetia: - "Tudo nascendo!" – essa sua exclamação dileta, em muitas ocasiões, com o deferir de um sorriso. E o ar. Dizia que o ar estava com cheiro de lembrança. – "A gente não vê quando o vento se acaba..." Estava no quintal, vestidinha de amarelo. O que falava, às vezes era comum, a gente é que ouvia exagerado: - "Alturas de urubuir..." Não, dissera só: - "... altura de urubu não ir." O dedinho chegava quase no céu. Lembrou-se de: - "Jabuticaba de vem-mever..." Suspirava, depois: - "Eu quero ir para lá." – Aonde? – "Não sei" Aí, observou: - "O passarinho desapareceu de cantar..." De fato, o passarinho tinha estado cantando, e, no escorregar do tempo, eu pensava que não estivesse ouvindo; agora, ele se interrompera. Eu disse: - "A Avezinha." De por diante, Nhinhinha passou a chamar o sabiá de "Senhora Vizinha..." E tinha respostas mais longas: - "Eeu? Tou fazendo saudade." Outra hora falava-se de parentes já mortos, ela riu: - "Vou visitar eles..." Ralhei, dei conselhos, disse que ela estava com a lua. Olhou-me, zombaz, seus olhos muito perspectivos: - "Ele te xurugou?" Nunca mais vi Nhinhinha.<br /><br /> Sei, porém, que foi por aí que ela começou a fazer milagres.<br /><br /> Nem Mãe nem Pai acharam logo a maravilha, repentina. Mas Tiantônia. Parece que foi de manhã. Nhinhinha, só, sentada, olhando o nada diante das pessoas: - "Eu queria o sapo vir aqui" Se bem a ouviram, pensaram fosse um patranhar, o de seus disparates, de sempre. Tiantônia, por vezo, acenou-lhe com o dedo. Mas, aí, reto, aos pulinhos, o ser entrava na sala, para aos pés de Nhinhinha – e não o sapo de papo, mas uma bela rã brejeira, vinda do verduroso, a rã verdíssima. Visita dessas jamais acontecera. E ela riu: - "Está trabalhando um feitiço..." Os outros se pasmaram; silenciaram demais.<br /><br /> Dias depois, com o mesmo sossego: - "Eu queria uma pamonhinha de goiabada" – sussurrou; e, nem bem meia hora, chegou uma dona, de longe, que trazia os pãezinhos da goiabada enrolada na palha. Aquilo, quem entendia? Nem os outros prodígios, que vieram se seguindo. O que ela queria, que falava, súbito acontecia. Só que queria muito pouco, e sempre as coisas levianas e descuidosas, o que não põe nem quita. Assim, quando a Mãe adoeceu de dores, que eram de nenhum remédio, não houve fazer com que Nhinhinha lhe falasse a cura. Sorria apenas, segredando seu – "Deixa... Deixa..." – não a podiam despersuadir. Mas veio vagarosa, abraçou a Mãe e a beijou , quentinha. A Mãe, que a olhava com estarrecida fé, sarou-se então, num minuto. Souberam que ela tinha também outros modos.<br /><br /> Decidiram de guardar segredo. Não viessem ali os curiosos, gente maldosa e interesseira, com escândalos. Ou os padres, o bispo, quisessem tomar conta da menina, levá-la para sério convento. Ninguém, nem os parentes de mais perto, devia saber. Também, o Pai, Tiantônia e a Mãe, nem queria versar conversas, sentiam um medo extraordinário da coisa. Achavam ilusão.<br /><br /> O que ao Pai, aos poucos, pegava a aborrecer, era que de tudo não se tirasse o sensato proveito. Veio a seca, maior, até o brejo ameaçava se estorricar. Experimentaram pedir a Nhinhinha: que quisesse a chuva. – "Mas, não pode, ué..." – ela sacudiu a cabecinha. Instaram-na: que, se não, se acabava tudo, o leito, o arroz, a carne, os doces, frutas, o melado. – "Deixa... Deixa..." – se sorria, repousada, chegou a fechar os olhos, ao insistirem, no súbito adormecer das andorinhas.<br /><br /> Daí a duas manhãs quis: queria o arco-íris. Choveu. E logo aparecia o arco-da-velha, sobressaído em verde e o vermelho – que era mais um vivo cor-de-rosa. Nhinhinha se alegrou, fora do sério, à tarde do dia, com a refrescação. Fez o que nunca lhe vira, pular e correr por casa e quintal.<br /><br /> - "Adivinhou passarinho verde?" – Pai e Mãe se perguntavam. Esses, os passarinhos, cantavam, deputados de um reino. Mas houve que, a certo momento, Tiantônia repreendesse a menina, muito brava, muito forte, sem usos, até a Mãe e o Pai não entenderam aquilo, não gostaram. E Nhinhinha, branda, tornou a ficar sentadinha, inalterada que nem se sonhasse, ainda mais imóvel, com seu passarinho-verde pensamento. Pai e Mãe cochichavam, contentes: que, quando ela crescesse e tomasse juízo, ia poder ajudar muito a eles, conforme à Providência decerto prazia que fosse.<br /><br /> E, vai, Nhinhinha adoeceu e morreu. Diz-se que da má água desses ares. Todos os vivos atos se passam longe demais.<br /><br /> Desabado aquele feito, houve muitas diversas dores, de todos, dos de casa: um de-repente enorme. A Mãe, o Pai e Tiantônia davam conta de que era a mesma coisa que se cada um deles tivesse morrido por metade. E mais para repassar o coração, de se ver quando a Mãe desfiava o terço, mas em vez das ave-marias podendo só gemer aquilo de – "Menina grande... Menina grande..." – com toda ferocidade. E o Pai alisava com as mãos o tamboretinho em que Nhinhinha se sentava tanto, e em que ele mesmo se sentar não podia, que com o peso de seu corpo de homem o tamboretinho se quebrava.<br /><br /> Agora, precisavam de mandar um recado, ao arraial, para fazerem o caixão e aprontarem o enterro, com acompanhantes de virgens e anjos. Aí, Tiantônia tomou coragem, carecia de contar: que, naquele dia, do arco-íris da chuva, do passarinho, Nhinhinha tinha falado despropositado de satino, por isso com ela ralhara. O que fora: que queria um caixãozinho cor-de-rosa, com enfeites de verdes brilhantes... A agouraria! Agora, era para se encomendar o caixãozinho assim, sua vontade?<br /><br /> O Pai, em bruscas lágrimas, esbravejou: que não! Ah, que, se consentisse nisso, era como tomar culpa, estar ajudando ainda Nhinhinha a morrer...<br /><br /> A Mãe queria, ela começou a discutir com o Pai. Mas, no mais choro, se serenou – o sorriso tão bom, tão grande – suspensão num pensamento: que não era preciso encomendar, nem explicar, pois havia de sair bem assim, do jeito, cor-de-rosa com verdes funebrilhos, porque era, tinha de ser! – pelo milagre, o de sua filhinha em glória, Santa Nhinhinha.<br /><br /> (in Primeiras Estórias, João Guimarães Rosa, Editora Nova Fronteira)<br /><br /><a href="http://www.revista.agulha.nom.br/guimaraesrosa.html">+ Guimarães Rosa</a>Mirandahttp://www.blogger.com/profile/13900647497462195491noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1225065877890864064.post-65322991755460311282007-05-23T09:09:00.000-07:002007-05-23T09:11:29.481-07:00Uma Boa Noite de Chuva!<center><img src="http://www.imagereward.com/images2/public/2007/137/22//Rio%20Negro.jpg" /></center><br /><p align="center">A chuva é uma dádiva da natureza, meus amigos, é sim.<br />Quisera eu que chovesse todas as tardes, numa harmonia sem fim,<br />Que atrapalharia os trabalhadores, afoitos por descanso durante o dia ruim.<br />Reclamam da dádiva por não estarem numa rede balançando assim.</p><p align="center">Quisera eu poder pensar na sutileza da chuva<br />Sem lembrar dos que moram na rua<br />e que transformam a magia desta melancolia<br />numa realidade suja e fria.</p><p align="center">Afinal, parece que não posso dar asas ao sonhador,<br />pois quando tento, a realidade me ofusca com a dor.<br />Mas já que os nossos jardins são feitos de opostos,<br />posso ajudar quem não pode, e poetizar meus esforços...</p><p style="text-align: right;"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/05/m-marcolin.html">M. MarcoliN</a><br /></p>Mirandahttp://www.blogger.com/profile/13900647497462195491noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1225065877890864064.post-60063503216641420342007-05-23T09:06:00.000-07:002008-12-10T09:31:39.160-08:00Uma Boa Noite!<center><img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKWRr-tZYgTa2aYf8Sse64QoSzIL0Ditor0bgmo_igFWy4IvgANZkHLZnXPLHK08WASPjbgDVTC9ag39EMvbRU7kUiTMidALcu00k_rLBsoLU7L8ryNXJo9IqFHbuv0yg4gZuXhNinELCl/s400/6am130.jpg" /></center><br /><p align="center">O quê a noite me lembra?<br />Alguns pecados, algumas decisões,<br />e a esperança de um novo dia<br />que começa amanhã...<br />...e que não preciso saber se termina como o de hoje.</p><p style="text-align: right;"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/05/m-marcolin.html">M. MarcoliN</a><br /></p>Mirandahttp://www.blogger.com/profile/13900647497462195491noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1225065877890864064.post-22682832540395235392007-05-23T09:03:00.000-07:002007-05-23T09:06:24.621-07:00O medo!<center><img src="http://www.imagereward.com/images2/public/2007/130/23//trauma.jpg" /><br /><span style="font-size:85%;"><span style="font-style: italic;">Ilustração metafórica do trauma.</span></span></center><p align="center">Tenho medo da dor<br />De sentir dor ao morrer<br />De perder os olhos<br />Mas se os perder<br />Prefiro morrer...</p><p align="center">Tenho medo de ter medo<br />Na hora errada<br />Em que precisarei não ter medo<br />Mas se o medo só é quando não temos coragem<br />Como não vou ter medo se não tenho coragem?</p><p align="center">"Apoie-se no medo" dizem<br />"Nos torna mais fortes"<br />Então todo vencedor é mais forte ou mais medroso?<br />"Nem toda situação necessita de coragem<br />a coragem pode ser burrice e, por conseguinte, fatal."<br />O medo, então, é parente da prudência?</p><p align="right"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/05/m-marcolin.html">M.MarcoliN</a></p>Mirandahttp://www.blogger.com/profile/13900647497462195491noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1225065877890864064.post-26223679679847726672007-05-23T08:54:00.000-07:002007-05-23T09:12:53.785-07:00M. Marcolin<p align="justify">Todo homem está sujeito aos pesares da sociedade, e por tal corre muitas vezes o perigo de esquecer de si mesmo em degradação entre outros ao seu redor. Quero com isto dizer que não sou melhor que ninguém, muito menos pior, mas tento ser "menos errado", e cobater o lado negativo da coercitividade em mim.</p><p align="justify">Pra isso acredito que a misantropia munida de papel e caneta seja o melhor, mas não sou um aspirante a Fernando Pessoa, pois prefiro pensar que sou um influenciado por ele, e como tal, um livro aberto a quem quiser ler.</p><p align="justify">Então, se estás lendo isto, é porque algo que escrevi te chamou a atenção, e espero ter sido de forma positiva. Quero dizer que estou aberto à críticas e sugestões, a elogios e reclamações, à uma conversa e à uma amizade. Obrigado pela visita.</p><p style="text-align: center;"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/05/o-medo.html">O medo!</a></p><p style="text-align: center;"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/05/uma-boa-noite.html">Uma Boa Noite!</a></p><p style="text-align: center;"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/05/uma-boa-noite-de-chuva.html">Uma Boa Noite de Chuva!</a><br /></p>Mirandahttp://www.blogger.com/profile/13900647497462195491noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1225065877890864064.post-75677126218353657732007-04-17T20:46:00.000-07:002008-12-10T09:31:39.593-08:00Fraude [ Dicionário Filosófico - Voltaire ]<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-wmqnka274PeqNXGdno1FJTuhHSChDmo4e9yKGYdvM8RBv5qMoNQhSpb2grYEiDCSPoUWWsfURXZQbBjgZl2Ly_JIsacpNhDIhryPGTaAgXh8MPypZZPjj0j4oiGuXb7AcndZlK_uvvPz/s1600-h/cr-caliope.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-wmqnka274PeqNXGdno1FJTuhHSChDmo4e9yKGYdvM8RBv5qMoNQhSpb2grYEiDCSPoUWWsfURXZQbBjgZl2Ly_JIsacpNhDIhryPGTaAgXh8MPypZZPjj0j4oiGuXb7AcndZlK_uvvPz/s400/cr-caliope.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5054609235987965714" border="0" /></a><center><p>Se é preciso usar de fraudes piedosas com o povo.</p><p><br />O faquir Bambabefe encontrou um dia um dos discípulos de Cong-fu-tseu, que chamamos Confúcio, e esse discípulo chamava-se Uang; e Bambabefe sustinha que o povo tem necessidade de ser enganado, e Uang pretendia que jamais se deve enganar quem quer que seja; e eis em resumo a sua disputa.</p><p><br /><br />Bambabefe</p><p><br /><br />É preciso imitar o Ente Supremo, que não nos mostra as coisas tais como são; ele nos faz ver o Sol sob um diâmetro de dois ou três pés, não obstante esse astro ser um milhão de vezes maior do que a Terra; ele nos faz ver a Lua e as estrelas deitadas sobre um mesmo fundo azul, enquanto na realidade estão a distâncias diferentes; quer que uma torre quadrada nos pareça redonda de longe; quer que o fogo nos pareça quente, apesar de não ser nem frio nem quente; enfim ele nos cerca de erros convenientes a nossa natureza.</p><p><br /><br />Uang</p><p><br /><br />Isso a que chamais erro não o é absolutamente. O Sol, tal como está colocado a milhões de milhões de léguas além do nosso globo, não é o que vemos. Realmente, nós não percebemos, nem podia deixar de sê-lo, senão o Sol que se grava em nossa retina, sob um ângulo determinado. Nossos olhos não nos foram dados para conhecermos as grandezas e as distâncias; são precisos outros recursos e operações para conhecê-las.<br /></p><p><br />Bambabefe ficou muito admirado dessas proposições. Uang, que era muito paciente, explicou-lhe a teoria da ótica; e Bambabefe, que tinha um certo tino, rendeu-se à evidência das demonstrações do discípulo de Cong-fu-tseu; em seguida reencetou a disputa nestes termos:<br /></p><p><br />Bambabefe<br /></p><p><br />Se Deus não nos engana quanto aos nossos sentidos, como eu pensava, deveis convir ao menos em que os médicos enganam sempre as crianças para o seu próprio bem: dizem-lhes que lhes estão dando açúcar, e na realidade trata-se de ruibarbo. Portanto, meu caro faquir, posso muito bem enganar o povo, que é tão ignorante como as crianças.<br /></p><p><br />Uang<br /></p><p><br />Tenho dois filhos e jamais os enganei; disse-lhes quando estiveram doentes: "Eis um remédio muito amargo, é preciso ter coragem para tomá-lo; se fosse doce vos faria mal". Nunca admiti que suas amas e seus preceptores lhes metessem medo contando-lhes histórias de feitiçarias; é assim que os criei, como cidadãos corajosos e sábios.<br /></p><p><br />Bambabefe<br /></p><p><br />O povo não nasceu tão feliz como vossa família.<br /></p><p><br />Uang<br /></p><p><br />Todos os homens se parecem; nasceram com as mesmas disposições. Os faquires é que corrompem a natureza dos homens<br /></p><p><br />Bambabefe<br /></p><p><br />Ensinamos-lhes muitos erros, reconheço-o; mas é para o seu próprio bem. Fazemo-lhes crer que se não comprarem nossos cravos bentos, se não expiarem seus pecados dando-nos dinheiro, tornar-se-ão, na outra vida, cavalos de posta, cães ou lagartos: isto os intimida, e então eles se tornam pessoas de bem.<br /></p><p><br />Uang<br /></p><p><br />Mas não percebeis que dessa forma perverteis essa pobre gente? Existem entre o povo, mais do que se pensa, pessoas que raciocinam, que zombam de vossos cravos, de vossos milagres, de vossas superstições, que vêem muito bem que não se irão transformar nem em lagartos nem em cavalos de posta. Que acontece? Elas têm bastante bom senso para ver que vós lhes pregais uma religião impertinente, e não o têm, entretanto, suficiente para se elevar numa religião pura e isenta de superstições como é a nossa. Suas paixões lhes fazem pensar que não existe religião, uma vez que a única que lhes ensinam é ridícula; tornai-vos pois culpado de todos os vícios aos quais elas se atiram.<br /></p><p><br />Bambabefe<br /></p><p><br />De forma alguma, porquanto nós apenas lhes ensinamos uma boa moral.<br /></p><p><br />Uang<br /></p><p><br />Seríeis lapidado pelo povo se lhe ensinásseis uma moral impura. Os homens são feitos de forma tal que querem cometer o mal mas não admitem que lho preguemos. Seria simplesmente necessário não imiscuir uma sábia moral com fábulas absurdas, pois enfraqueceis com vossas imposturas, de que poderíeis vos abster, essa moral que sois forçados a ensinar.<br /></p><p><br />Bambabefe<br /></p><p><br />Como! Julgais que se pode ensinar a verdade ao povo sem a sustentar pelas fábulas?<br /></p><p><br />Uang<br /></p><p><br />Creio-o firmemente. Nossos letrados são da mesma massa que nossos alfaiates, tintureiros e camponeses. Adoram um Deus criador, remunerador e vingador Eles não contaminam o seu culto com sistemas absurdos nem cerimônias extravagantes; e há muito menos crimes entre os letrados que entre o povo. Por que não nos dignarmos instruir nossos operários como instruímos nossos letrados?<br /></p><p><br />Bambabefe<br /></p><p><br />Cometeríeis uma grande tolice; é como se pretendêsseis que eles tivessem a mesma polidez, que fossem jurisconsultos: isso não é possível nem conveniente. É preciso que exista pão branco para os amos e pão negro para os domésticos.<br /></p><p><br />Uang<br /></p><p><br />Reconheço que nem todos os homens devam ter os mesmos conhecimentos; mas há coisas necessárias a todos. É necessário que cada um seja justo, e a maneira mais segura de inspirar a justiça a todos os homens é inspirar-lhes a religião sem superstição.<br /></p><p><br />Bambabefe<br /></p><p><br />É um belo projeto, mas impraticável. Julgais que seja suficiente aos homens acreditar num Deus que puna e recompense? Vós me dissestes acontecer freqüentemente que os mais avisados entre o povo se revoltam contra minhas fábulas; da mesma forma se revoltarão contra vossa verdade. Dirão: Quem me pode assegurar que um Deus pune a recompensa? Onde está a prova? Que missão tendes? Que milagre fizestes para que eu vos creia? Eles zombarão de vós muito mais do que de mim.<br /></p><p><br />Uang<br /></p><p><br />Eis o vosso erro. Imaginais que hão de sacudir o jugo de uma idéia honesta, verossímil, útil a toda gente, uma idéia que está em perfeito acordo com a razão humana, por que se rejeitam as coisas indecorosas, absurdas, inúteis, nocivas, que fazem fremir o bom senso.<br /></p><p><br />O povo está sempre muito disposto a crer nos magistrados: quando seus magistrados não lhe propõem senão uma crença razoável, aceita-a de boa vontade; essa idéia é muito natural para ser combatida. Não é necessário dizer precisamente como é que Deus punirá e recompensará; basta que se creia em sua justiça. Asseguro vos que vi cidades inteiras que não tinham outro dogma, e são também aquelas onde mais encontrei a virtude.<br /></p><p><br />Bambabefe<br /></p><p><br />Tomai tento; encontrareis nessas cidades filósofos que vos negarão tanto as penas como as recompensas.<br /></p><p><br />Uang<br /></p><p><br />Deveríeis dizer que tais filósofos negariam ainda com maior vigor vossas invenções; assim nada lucrais nesse ponto. Quando mesmo existissem filósofos que não estivessem em acordo com meus princípios, não deixariam de ser pessoas de bem; não deixariam de cultivar a virtude, que deverá ser abraçada por amor, e não por medo. Mas afirmo-vos que filósofo algum jamais estará plenamente certo de que a Providência não reserve castigos aos maus e recompensas aos bons; porque se eles me perguntarem quem me disse que Deus pune, eu lhes perguntarei quem lhes disse que Deus não pune. Enfim, asseguro-vos que os filósofos me auxiliarão, longe de me contradizerem. Quereis ser filósofo?<br /></p><p><br />Bambabefe</p><p><br /><br />Com todo gosto; não o digais porém aos faquires.</p><p><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/02/voltaire-1694-1778.html">Voltaire</a><br /></p></center>Mirandahttp://www.blogger.com/profile/13900647497462195491noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1225065877890864064.post-37518560348880284002007-03-24T04:34:00.000-07:002007-03-27T04:52:43.039-07:00<p style="text-align: center;"><span style="color: rgb(255, 0, 0); font-weight: bold;">Fé [ Dicionário Filosófico ]</span></p><p style="text-align: center;"><span style="font-size:130%;"><span style="font-weight: bold;">I</span></span><br /></p><p align="justify">Certo dia, o príncipe Pico della Mirandola encontrou-se com o papa Alexandre VI em casa da cortesã Emília, quando Lucrécia, filha do santo padre, estava em trabalhos de parto e não se sabia, em Roma, se o filho dela era do papa ou de seu filho, o duque de Valentinois, ou do marido de Lucrécia, Afonso de Aragão, que, ao que constava, era impotente.</p><p align="justify">O diálogo principiou muito animado. O cardeal Bembo narra-nos uma parte da conversa.</p><p align="justify">- "Pico", perguntou o papa, "julgas quem seja o pai de meu neto?" - "Acho que é vosso genro", respondeu Pico. - "Eh! como podes acreditar numa tamanha idiotice?" - "Creio, porque tenho fé." - "Por acaso ignoras que uma criatura impotente não pode fazer filhos?" - "Consiste a fé." Retorquiu Pico, "em crer nas coisas porque elas são impossiveis. Aliás, a honra da vossa casa exige que o filho de Lucrécia não possa ser o fruto de um incesto. Deverei crer em mistérios mais incompreensiveis do que o que se apresenta. Pois não é forçoso que esteja convencido que uma serpente falou, que desde esse tempo todos os homens ficaram danados, que a burra de Balaão falou também, com grande eloquência, e que as muralhas de Jericó cairam ao soar das trombetas?" Na sequencia, Pico desatou a desfiar todas as coisas portentosas em que era obrigado a acreditar.</p><p align="justify">Alexandre soltou o corpo num sofá e rebolava-se de tanto rir. - "Acredito em tudo isso quanto vós", dizia, por entre gargalhadas, "porque sinto que só pela fé posso ser salvo e que não o serei jamais pelos meus atos."<br />- "Ah! santo padre", exclamou Pico, "não tendes necessidade de boas obras nem de fé. Isso só serve para os pobres profanos, como eu. Para vós, que sois uma espécie de vice-deus, vós, sim, podeis acreditar e fazer tudo quanto vos apeteça. Tendes as chaves do céu. Certamente São Pedro não vai dar-vos com a porta na cara. Quanto a mim, porém, confesso-vos que para entrar lá necessitaria de uma poderosa proteção se, sendo apenas um pobre príncipe, tivesse ido para a cama com uma filha minha e tivesse utilizado o estilete e a cantarela tantas vezes como Vossa Santidade dizem que já fez."</p><p align="justify">Alexandre VI não era desconfiado, nem se ofendia com os gracejos que lhe dirigiam.</p><p align="justify">- "Falemos a sério", disse para o principe della Mirandola. "Dize-me lá que mérito podemos ter em dizer a Deus que estamos persuadidos de coisas em que, efetivamente, não podemos acreditar? Que prazer pode dar isso a Deus? Cá entre nós, dizer que se acredita naquilo que é impossível de acreditar, é mentir e nada mais."</p><p align="justify">Pico della Mirandola fez um grande sinal da cruz. - "Homessa! Deus paternal", exclamou, "que Vossa Santidade me perdoe, mas não sois cristão."<br />- "Assim Deus me salve que não", respondeu o papa.<br />- "Pois já tinha cá minhas desconfianças", rematou Pico della Mirandola.</p><p style="text-align: right;">(Por um descendente de Rabelais)</p><p style="text-align: center;"><span style="font-size:130%;"><span style="font-weight: bold;">II</span></span><br /></p><br /><p align="justify">Que é a fé? Seria acreditarmos naquilo que é evidente? Não! É evidente que há um Ser necessário, eterno, supremo, inteligente. Todavia isso não é artigo de fé, e, sim, de razão. Não tenho mérito nenhum em pensar que este Ser, eterno, infinito, que conheço como a virtude, a própria bondade, queira que eu seja bom e virtuoso. Consiste a fé em acreditarmos, não naquilo que nos parece verdadeiro, mas naquilo que se apresenta como errado e falso ao nosso entendimento. Somente pela fé os asiáticos podem acreditar na viagem que Maomé fez pelos sete planetas, nas encarnações do deus Fô, de Visnu, de Xaca, de Brama, de Samonocodão, etc., etc., etc. Coitados, vêem sua inteligência sob tortura, submetem-na , tremem de analisar os fatos, não querem ser empalados nem assados vivos e gritam: "Creio!"</p><p align="justify">À fé católica, estamos aqui bem longe de fazer a menor alusão. Porque não somente a veneramos, mas é a nossa. Falaremos apenas da fé embusteira dos outros povos do mundo, dessa fé que não é fé e consiste num palavreado oco.</p><p align="justify">Usa-se uma fé para as coisas espantosas e outra fé para as coisas contraditórias e impossíveis.</p><p align="justify">DIz-se que Visnu encarnou quinhentas vezes. Coisa bastante espantosa, mas fisicamente e no final das contas não é impossivel. Eis que se Visnu tem uma alma, pode ter quinhentos corpos para se divertir. Em verdade, o indiano não tem uma fé muito viva. Em seu íntimo não está convencido dessas metamorfoses todas, mas dirá, afinal, ao seu bonzo: "Tenho fé. Se pretendeis que Visnu passou por quinhentas encarnações, o que, para vós, equivale a quinhentas rúpias de rendimento, está dito, é coisa assente. De outro modo, iríeis fazer um aranzel contra mim, iríeis denunciar-me, traríeis a ruína ao meu negócio, se não tivesse fé. Que seja! Tenho fé e tomai lá mais dez rúpias que vos dou". O indiano pode jurar e trejurar a esse bonzo que acredita, sem fazer um falso juramento. Isso porque, apesar de tudo, não lhe demonstrou que Visnu não tenha vindo quinhentas vezes visitar as Índias.</p><p align="justify">No entanto, se o bonzo lhe exigir que creia numa coisa contraditória, impossível, como, por exemplo: dois e dois são cinco, ou que o mesmo corpo pode estar em mil lugares diferentes, ou que ser e não ser é precisamente a mesma coisa. Assim, se o indiano disse que tem fé, mentiu, e se jura que acredita, comete um perjúrio. Então, diz ao bonzo:</p><p align="justify">- "Reverendo padre, posso garantir-vos que acredito em todos esses disparates, contanto que vos valham dez mil rúpias de rendimento em vez de quinhentas".<br />- "Meu filho", responde logo o bonzo, "passa pra cá vinte rúpias e Deus te fará a graça de acreditares em tudo aquilo em que ainda não consegues crer."<br />- "Como quereis", responde o indiano, "que Deus opere em mim o que ele não pode operar sobre ele mesmo? Impossível é que Deus faça ou acredite em coisas contraditórias. Gostaria de dizer-vos, para vos alegar, que acredito no que é obscuro. Porém não posso dizer-vos que acredito no que é impossível.Deus quer que sejamos virtuosos, mas não que sejamos absurdos. Dez rúpias já vos dei, toma lá mais vinte. Crede em trinta rúpias, sede homem de bem se puderes e não me tortureis mais os miolos com as vossas fantasias."<br /></p><p style="text-align: center;"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/02/voltaire-1694-1778.html">Voltaire</a><br /></p>Mirandahttp://www.blogger.com/profile/13900647497462195491noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1225065877890864064.post-72028514299583501132007-02-17T15:27:00.000-08:002007-02-19T10:32:37.672-08:00Fanatismo (Dicionário Filosófico)<p align="center"><strong><span style="font-size:130%;">I</span></strong></p><p align="justify">O fanatismo é para a superstição o que o delírio é para a febre, o que é a raiva para a cólera. Aquele que tem êxtases, visões, que considera os sonhos como realidades e as imaginações como profecias é um entusiasta; aquele que alimenta a sua loucura com a morte é um fanático. João Dias, retirado em Nuremberg, firmemente convicto de que o papa é o Anticristo do Apocalipse e que tem o signo da besta, não era mais que um entusiasta. Bartolomeu Dias, que partiu de Roma para ir assassinar santamente o seu irmão e que efetivamente o matou pelo amor de Deus, foi um dos mais abomináveis fanáticos que em todos os tempos pôde produzir a superstição.</p><p align="justify">Poliuto, que vai ao templo num dia de solenidade derrubar e destruir as estátuas e os ornamentos, é um fanático menos horrível que do que Dias, mas não menos tolo. Os assassinos do duue Francisco de Guise, de Guilherme, príncipe de Orange, do rei Henrique III, do rei Henrique IV e de tantos outros foram energúmenos enfermos da mesma raiva de Dias.</p><p align="justify">O mais detestável exemplo de fanatismo é aquele dos burgueses de Paris que correram a assassinar, degolar, atirar pelas janelas, despedaçar, na noite de São Bartolomeu, seus concidadãos que não iam à missa.</p><p align="justify">Há fanáticos de sangue-frio: são os juízes que condenam à morte aqueles cujo único crime é não pensar como eles; e esses juízes são tanto mais culpados, tanto mais merecedores da execração do gênero humano quanto, não estando tomados de um acesso de furor como os Clément, os Chatêl, os Ravaillac, os Gérard, os Damien, parece poderiam ouvir a razão.</p><p align="center"><strong><span style="font-size:130%;">II</span></strong></p><p align="justify">Quando uma vez o fanatismo tendo gangrenado um cérebro, a doença é quase incurável. Eu vi convulsionários que, falando dos milagres de S. Páris, sem querer se acaloravam cada vez mais; seus olhos encarniçavam-se, seus membros tremiam, o furor desfigurava seus rostos, e teriam morto quem quer que os houvesse contrariado.</p><p align="justify">Não há outro remédio contra esta doença epidêmica senão o espírito filosófico que, progressivamente difundido, adoça enfim a índole dos homens, prevenindo os acessos do mal. Porque, desde que o mal fez alguns progressos, preciso fugir e esperar que o ar seja purificado. As leis e a religião não bastam contra as pestes das almas. A religião, longe de ser para elas um alimento salutar, transforma-se em veneno nos cérebros infeccionados. Esses miseráveis tem incessantemente, presente no espírito o exemplo de Aode, que assassina o rei Eglão; de Judite, que corta a cabeça de Heloferne quando deitada com ele; de Samuel, que corta em pedaços o rei Agague. Eles não vêem que esses exemplos respeitáveis para a Antiguidade são abomináveis na época atual; eles baseiam seus furores na mesma religião que os condena.</p><p align="justify">As leis são ainda muito impotentes contra tais acessos de raiva. É como se lêsseis um aresto do Conselho a um frenético. Essa gente está pesuadida de que o espírito santo que os penetra está acima das leis e de que o seu entusiasmmo é a única lei a que devem obedecer.</p><p align="justify">Que responder a um homem que vos diz que prefere obedecer a Deus a obedecer aos homens e que, consequentemente, está certo de merecer o céu se vos degolar?</p><p align="justify">De ordinário, são os velhacos que conduzem os fanáticos e que lhes põem o punhal nas mãos: assemelham-se a esse Velho da Montanha que fazia - segundo se diz - imbecis gozarem as alegrias do paraíso e que lhes prometia uma eternidade desses prazeres que lhes havia feito provar com a condição de assassinarem todos aqueles que lhes apontasse. Só houve uma religião no mundo que não foi abalada pelo fanatismo, é a dos letrados da China. As seitas dos filósofos estavam não somente isentas dessa peste como constituíam o remédio para ela, pois o efeito da filosofia é tornar a alma tranquila, e o fanatismo é incompatível com a tranquilidade. Se a nossa santa religião tem sido frequentemente corrompida por esse furor infernal, é à loucura humana que se deve culpar.</p><p align="center"><em>Assim, das asas que teve,<br />Ícaro perverteu o uso;<br />teve-as para seu bem<br />e as empregou em seu dano.<br /></em>(Bertaud, Bispo de Séez)</p><p align="center"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/02/voltaire-1694-1778.html">Voltaire</a></p>Mirandahttp://www.blogger.com/profile/13900647497462195491noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-1225065877890864064.post-23256247885837057722007-02-08T06:23:00.000-08:002008-12-10T09:31:40.815-08:00O Cacique Ajuricaba<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAlAcSddLQ_SVXJZffuPvLDL-wpDQ3SyRd_Fcv6e4nnIn48bCg3EDs3xpOwvE0GSkv7Pmuxp7fUifjuc-oHbBpA2yFCqnRTjA0EvTFEyGt_UyznVmELZl8o9T6XUVfLJO0c2hFiFAZTxGk/s1600-h/indioajuricaba.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5029224876863652770" title="Ilustração de Ajuricaba" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAlAcSddLQ_SVXJZffuPvLDL-wpDQ3SyRd_Fcv6e4nnIn48bCg3EDs3xpOwvE0GSkv7Pmuxp7fUifjuc-oHbBpA2yFCqnRTjA0EvTFEyGt_UyznVmELZl8o9T6XUVfLJO0c2hFiFAZTxGk/s400/indioajuricaba.jpg" border="0" /></a><br /><p align="center"><strong><span style="font-size:130%;">I</span></strong></p><p align="justify">Uma linha tênue separa a realidade da fantasia, a história do folclore que, por sua vez, envolve lendas, mitos, tradições, costumes e mistura fatos reais e históricos com acontecimentos e personagens que são frutos da fantasia, a fim de dar explicação a coisas que estão além da compreensão humana.</p><p align="justify">É sabido que a civilização ocidental não se inspirou apenas na cultura nativa de cada povo, autóctone, escrita, oral ou então representada pelas diversas outras formas artísticas, mas na miscigenação do mundo fabuloso legado pelos gregos, anglo-saxões, africanos, e até orientais. incorporamos tudo isto à nossa cultura, não só os valores materiais, éticos ou teológicos, como os deuses, heróis e vilões mitológicos da civilização ocidental, além de um conjunto de tradições, conhecimentos e crenças expressas na história, no folclore e nas narrativas populares</p><p align="justify">Antes de abordarmos a lenda deste post, que enfoca o heróico cacique Ajuricaba, uma das figuras mais inportantes da História do Amazonas, vale lembrar que embora o folclore envolva lendas e mitos, como um conjunto de conhecimentos ou crenças populares expressas em narrativas e provérbios, há também diferenças sutis entre si.</p><p align="center"><strong>II</strong></p><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicWALAyb6Jtz-3iF-r3JDf6PHKozFHeKdHo3tc_bCUWkI4hM_MBa7yCg8qBWvZEDFJCv6hDLxzEoPuxTd_yAoE8KpXvrMGDv4_m7E61cOqaS5dqOx3R_OxpSe1TdZRkwQ1OtvVmVaWtzL3/s1600-h/Rio+Negro.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5029225207576134578" title="Rio Negro" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicWALAyb6Jtz-3iF-r3JDf6PHKozFHeKdHo3tc_bCUWkI4hM_MBa7yCg8qBWvZEDFJCv6hDLxzEoPuxTd_yAoE8KpXvrMGDv4_m7E61cOqaS5dqOx3R_OxpSe1TdZRkwQ1OtvVmVaWtzL3/s400/Rio+Negro.jpg" border="0" /></a> <p align="justify">Ajuricaba foi protagonista de episódios épicos da guerra entre portugueses e indígenas Manáu, aguerrida nação aruaque que criou uma confederação de povos do Rio Negro para resistir por oito anos à ocupação lusitana nesta região. Em 1728, contudo, foi derrotado por uma poderosa força militar, vindo a cair prisioneiro e, quando era transportado para Belém onde seria vendido como escravo, atirou-se agrilhoado às águas da baía do Rio Negro, em frente ao forte de São José da Barra, que deu origem à cidade de Manaus.</p><p align="justify">Etimologicamente o folclore expressa as tradições (saber popular) de um povo através de um conjunto de contos, canções ou coreografias que representam uma época ou região; enquanto a lenda, que no latim significa <em><span style="color:#ff0000;">legenda</span></em> (coisas que devem ser lidas), é simplesmente uma narração escrita ou oral, de caráter maravilhoso, na qual os personagens e fatos históricos são deformados pela imaginação poular ou pela criação poética. Já o mito (siginifica fábula em grego) é mais específico aos tempos fabulosos ou heróicos, quando seres e fatos imaginários simbolizam forças da natureza, aspectos da vida humana exagerados pela imaginação popular, pela tradição. O mito é também uma narrativa de siginificação simbólica, transmitida de geração em geração, que procura justificar a origem de determinado fenômeno ou episódio, formulandoexplicação da ordem natural e social e de aspectos da condição humana.</p><p align="justify">Os mitos e lendas abundam no imaginário popular brasileiro, onde os relatos da literatura oral se perpetuam pela palavra falada ou pelas cantorias. São casos (causos, no dialeto rural), lendas, anedotas e mitos de criação coletiva, quer em forma de contos, mitologia ou folclore, como o saci-pererê - curupira - boto - caipora - iara - boitatá - lobisomen - mula-sem-cabeça - negrinho do pastoreio e muitas outras. Entre os seres fantásticos do Norte, por exemplo, estão o amao, andorinha, baíra, caapora, cobra-grande, mãe-do-mato, matintapereira e outras.</p><p align="center"><strong><span style="font-size:130%;">III</span></strong></p><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGwFocxSbVXeBkcNbxn-sm7mGhJ_9xSeQ3z8JRpX4alSY-c2xVTVEZOsBiqCOPOIl7hAQS2gzm5dxd3AohFlna2MSJQwhhOR614vc7_nriZN0umzG54O3rX-lgI1p_K00cuMuhOsYSb9MF/s1600-h/Rio+Negro,+Barco+no.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5029226002145084354" title="barco no rio Negro" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGwFocxSbVXeBkcNbxn-sm7mGhJ_9xSeQ3z8JRpX4alSY-c2xVTVEZOsBiqCOPOIl7hAQS2gzm5dxd3AohFlna2MSJQwhhOR614vc7_nriZN0umzG54O3rX-lgI1p_K00cuMuhOsYSb9MF/s400/Rio+Negro,+Barco+no.jpg" border="0" /></a> <p align="justify">Sobre Ajuricaba, cujo nome vem das palavras ajuri (ajuntamento) e caba (caba, marimbondo), ou seja, "ajuntamento de cabas", ou melhor, "ninho de cabas", é bom ressaltar que ele é considerado um dos precursores da luta pela liberdade indígena brasileira, que viraram lenda ao lado de Poti, Sepé, Araribóia, Tibiriçá, Viniambebe, Itagibe e Jaguari. Para mensurar a grandeza desse herói amazônico e as circunstâncias que o cercavam na época do levante Manáu, vale ainda fazer cruzamento entre a história, a antropologia e o imaginário que lhe deram destaque no cenário das nativistas.</p><p align="justify">Ele foi tuxaua e líder de uma das maiores guerras indígenas de resistência na Amazônia, acontecida no século XVIII. Para a historiadora e folclorista Rosane Volpatto, nosso herói "foi um dos chefes indígenas que conseguiram impor-se aos civilizados pelas suas qualidades de bravura, tenacidade e, sobretudo, de inteligência. Após a chegada do homem branco, o povo indígena procurou novas paragens para viver liberto ou teve de se moldar ao cativeiro imposto pelas circunstâncias. As povoações que surgiram logo depois da chegada dos lusos foram, inicialmente, habitadas por silvícolas que, presos ao torrão em que viviam, se transformaram em indivíduos sem vontade, sem razão, sem ideais, verdadeiras feras domesticadas que ao estalar do chicote faziam tudo qeu lhe ordenava o domador".</p><p align="justify">Na época, uma das principais estratégias dos portugueses para ocupar a Amazônia e dominar as nações indígenas era deslocar as populações nativas para determinadas localidades chamadas "descimentos", onde ficavam confinadas e tornava a catequese mais fácil e propícia para a utilização de sua mão-de-obra (escrava). Esses deslocamentos, contudo, na absoluta maioria das vezes eram compulsórios, contra a vontade dos indígenas, que não aceitavam abandonar seu habitat nem se submeter a trabalhos forçados, inclusive trocar sua fé pela dos cristãos, pregada principalmente pelos religiosos da Companhia de Jesus.</p><p align="center"><strong><span style="font-size:130%;">IV</span></strong></p><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg19Srpk61hHx3JQYprWkdc_IMLiH2o996SwWgVXrnV7MRetniqhGkVs7f0fK6CUTV3_-bbQVccnLuJ6fghNQIEBgTGtXkjGVTyDiz0yK23wTtlXNaUheY8pia-zVVijGkyzp8iC0Pkhbh5/s1600-h/indios1.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5029226564785800146" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg19Srpk61hHx3JQYprWkdc_IMLiH2o996SwWgVXrnV7MRetniqhGkVs7f0fK6CUTV3_-bbQVccnLuJ6fghNQIEBgTGtXkjGVTyDiz0yK23wTtlXNaUheY8pia-zVVijGkyzp8iC0Pkhbh5/s400/indios1.jpg" border="0" /></a><br /><p align="justify">O uso da intimidação compulsória também provocava resposta violenta dos indígenas, em especial dos aguerridos índios Manáu, que habitavam onde hoje fica as cidades de Manaus e Manacapuru, no Amazonas. Ajuricaba, com sua excepcional capacidade de liderança, conseguiu congregar diversas tribos locais para barrar o domínio dos portugueses sobre aquela região. Ele organizou uma rigorosa vigilância que dificultava o acesso dos lusitanos pelos rios e lagos, do baixo rio Negro ao rio Branco, prolongando a guerra por oito anos, quando toda a região foi governada pelo valoroso cacique, exceto Manaus, que ficou sob o poder de soldados portugueses.</p><p align="justify">As enormes distâncias entre a área do conflito e o centralismo de Lisboa, que controlava o Governo do Grão-Pará, em cuja jurisdição estava a Capitania do Rio Negro, dificultavam respostas imediatas contra o guerreiro Ajuricaba, que soube explorar essa deficiência. mas Belém reagiu e finalmente conseguiu organizar uma grande investida contra a confederação dos índios do rio Negro, incendiando 300 malocas e matando 15 mil nativos, incluíndo velhos, mulheres e crianças, além da capitulação e morte do famoso chefe Manáu (História Geral do Amazonas, p. 41).</p><p align="justify">O historiador Arthur César Ferreira Reis assim descreve o evento heróico: "A lenda informa que houve choque violento. De parte a parte, muito heroísmo. Os portugueses, à certa altura, depois de batidos em quatro investidas, já principiavam a desanimar, quando alguns soldados, completando o cerco, atacaram o Ajuricaba pela retaguarda, conseguindo vencê-lo. Adianta a lenda que, nessa refrega, perdendo o filho, tão bravo quanto ele, o jovem Cucunaça, lança-se entre os inimigos inflingindo-lhes várias perdas, sendo afinal preso e posto a ferro. Transportado para belém, depois de ser procedida nova devassa, onde se amontoaram várias provas para o líbelo acusatório ao grande guerreiro, em caminho, antes de chegar à embocadura do rio Negro, tentou libertar-se e aos companheiros. Sublevou, mesmo em grilhões, a gentilidade das embarcações, ameaçando seriamente a tropa de Paes do Amaral e Belchior. Dominado o levante, depois de muito sangue vertido, para não se sujeitar às hummilhações do inimigo ufano da vitória, lança-se com outro principal às águas do oceano fluvial que tanto amava, perecendo afogado, com grande satisfação dos conquistadores, livres de vez das preocupações de tê-lo sob a mais rigorosa vigilância até Belém, confessou o governador Maia da Gama (História do Amazonas, p.82)." Acrescenta o historiador que foram levados a ferros para Belém mais de dois mil indígenas, sendo encarcerados ou vendidos como escravos.</p><p align="center"><strong><span style="font-size:130%;">V</span></strong></p><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYWAPTfse3NEC26FB7GdSFgsr6rbbCc4atCrKb-4WtFiNoffk05NVUiygc3b6Cy2o6EmLk921ffdet_IwGwwOkDOHDcFcL99StFsFSshrej_icfsEMdboYAhgKoN2J9S2aDW4SNYA-XSyz/s1600-h/Rio+Negro.jpg02.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5029226989987562466" title="Rio Negro" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYWAPTfse3NEC26FB7GdSFgsr6rbbCc4atCrKb-4WtFiNoffk05NVUiygc3b6Cy2o6EmLk921ffdet_IwGwwOkDOHDcFcL99StFsFSshrej_icfsEMdboYAhgKoN2J9S2aDW4SNYA-XSyz/s400/Rio+Negro.jpg02.jpg" border="0" /></a><br /><p align="justify">Em prosa poética, Rosane Volpatto diz que "às vezes, no terreno de aluvião, sujo e lodoso, se encontram ouro e gemas preciosas e, também, em meio ao sofrimento, dor e pavor, surgem gênios, pessoas raras. Aqui em nossa terraexistiu um destes seres iluminados por um espírito guerreiro, que combateu com ardor e muita impetuosidade a hostilidade do pretenso civilizador. Ajuricaba não nasceu para o cativeiro. Nasceu com a mata interminável à sua disposição para nela expandir a sua ânsia de viver livremente".</p><p align="justify">Mais adiante, a folclorista descreve que, apesar da diferença de armamento, Ajuricaba resistiu dando exemplos seguidos de audácia e valor, quando finalmente caiu lutando, levado prisioneiro para bordo de uma nau lusitana, onde ainda consegue amotinar os presos que a custo foram subjugados. "Como se pudessem algemar a idéia que o dominava, amarram-lhe aos pés pesadas bolas de ferro com grossas correntes. Todavia, como Ajuricaba não nasceu para ser cativo, numa manhã consegue arrastar-se até a borda do navio e, explodindo de alegria, atira-se às águas espelhadas do rio com seus pesados grilhões, libertando-se para sempre... Hoje o povo indígena amazonense ainda aguarda outro libertador que o livre da agonia que o sufoca", finaliza Rosane Volpatto.</p><p align="justify">O fim de Ajuricaba tem sido cantado em prosa e verso, encenado como ópera nativista na memória do amazônida, nos levando a refletir sobre a história e destino da nossa região, ainda explorada e cativa da cobiça internacional. Antes, o rio Negro foi visitado pelo norte e pelo sul por ávidos europeus, através do Orinoco e do Amazonas, à caça da cidade dourada de Manoa, cenário da lenda criada pela imaginação opulenta dos conquistadores do rico Império Inca. À medida que as explorações avançavam, a conquista da terra se consolidava, malocas inteiras de índios iam sumindo para dar lugar a povoações colonas que surgiam como balizas de futuras invasões "civilizadas". Nada se antepôs á onda branca a não ser as heróicas tentativas de Ajuricaba, que conseguiu unir valentes etnias Aruaques numa confederação indígena do rio Negro para enfrentar em ousada guerrilha o poderio lusitano, pagando esta ousadia com a vida de milhares de guerreiros, velhos, mulheres e crianças. Muitos, contudo, tornavam-se voluntariamente cativos, servindo, às vezes, de guias à caça de seus próprios irmãos.</p><p align="right"><em><span style="font-size:85%;">Fonte: </span></em><a href="http://amazonview.uol.com.br/" target="_blank"><em><span style="font-size:85%;">Revista Amazon View</span></em></a></p><p align="center">***</p><p align="center"><strong><span style="font-size:180%;color:#ff0000;"><a href="http://www.rosanevolpatto.trd.br/ajuricaba.htm" target="_blank">Ajuricaba<br /></a></span></strong>[<span style="color:#ff0000;">Em Prosa Poética - por Rosane Volpatto</span>]</p><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgT0SCd-JJIuR34qN2NeV9xXac-poKHs7N_-HigC7B3r0lSP8D1r8_GzqKPxN0nluy5CPA_nfvNr_9HsmaA_zbkSzA8vBTko7D3YrehAGGZmgxmDKcC8Phl6sP8fgFJYsn-YFUl88tZdUKn/s1600-h/indio3.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5029227419484292082" title="Índios Guerreiros" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgT0SCd-JJIuR34qN2NeV9xXac-poKHs7N_-HigC7B3r0lSP8D1r8_GzqKPxN0nluy5CPA_nfvNr_9HsmaA_zbkSzA8vBTko7D3YrehAGGZmgxmDKcC8Phl6sP8fgFJYsn-YFUl88tZdUKn/s400/indio3.jpg" border="0" /></a>Mirandahttp://www.blogger.com/profile/13900647497462195491noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1225065877890864064.post-78886482107314014972007-02-02T01:28:00.000-08:002007-02-02T01:45:47.411-08:00Amor-Próprio<p align="justify">Um Mendigo dos arredores de Madri esmolava nobremente.Disse-lhe um transeunte:</p><p align="justify">- O senhor não tem vergonha de se dedicar a mister do infame, quando podia trabalhar?<br />- Senhor - respondeu o pedinte - , estou lhe pedindo dinheiro e não conselhos. - E com toda a dignidade castelhana virou-lhe as costas.</p><p align="justify">Era um mendigo soberbo. Um nada lhe feria a vaidade. Pedia esmola por amor de si mesmo, e por amor de si mesmo não suportava reprimendas.</p><p align="justify">Viajando pela Índia, topou um missionário com um faquir carregado de cadeias, nu como um macaco, deitado sobre o ventre e deixando-se chicotear em resgate dos pecados de seus patrícios indianos, que lhe davam algumas moedas do país.</p><p align="justify">- Que renúncia de si mesmo - dizia um dos espectadores.<br />- Renúncia de mim mesmo? - retorquiu o faquir. - Ficai sabendo que não me deixo açoitar neste mundo senão para vos retribuir no outro. Quando fordes cavalo e eu cavaleiro.</p><p align="justify">Tiveram pois plena razão os que disseram ser o amor de nós mesmos a base de todas as nossas ações na Índia, na Espanha, como em toda a terra habitável.<br />Supérfluo é provar aos homens que têm rosto. Supérfluo também seria demonstrar-lhes possuírem amor-próprio. O amor-próprio é o instrumento da nossa conservação. Assemelha-se ao intrumento da perpetuação da espécie. Necessitamo-lo. É-nos caro. Deleita-nos. E cumpre ocultá-lo.</p><p align="justify"><em><span style="font-size:85%;">Retirado de Dicionário Filosófico (1764)</span></em></p><p align="center"><strong><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/02/voltaire-1694-1778.html">Voltaire</a></strong></p>Mirandahttp://www.blogger.com/profile/13900647497462195491noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1225065877890864064.post-16035188427063418772007-02-02T01:23:00.000-08:002008-12-10T09:31:41.054-08:00Voltaire 1694 - 1778<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVC0hFeDn7GkfjJQjNZQWPWqTvFuFkcTxJXNCH5Zc5XUNtHaX6tHckYLjwn76VXaNrmmCbPiGaFprLxKOD9f8CKo4X8UEUmtIxIy2fYiDVzRWgZD5NTxzjFCNXVveJTOkdKsZYJIzxpBmo/s1600-h/Voltaire.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5026865258835230018" style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center;" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVC0hFeDn7GkfjJQjNZQWPWqTvFuFkcTxJXNCH5Zc5XUNtHaX6tHckYLjwn76VXaNrmmCbPiGaFprLxKOD9f8CKo4X8UEUmtIxIy2fYiDVzRWgZD5NTxzjFCNXVveJTOkdKsZYJIzxpBmo/s400/Voltaire.jpg" border="0" /></a> <p align="center"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/02/amor-prprio.html">Amor-Próprio</a> </p><p align="center"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/02/fanatismo.html">Fanatismo</a></p><p align="center"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/03/f-dicionrio-filosfico-certo-dia-o.html">Fé</a><br /></p><p align="center"><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Voltaire" target="_blank">Biografia</a></p>Mirandahttp://www.blogger.com/profile/13900647497462195491noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1225065877890864064.post-5803061493090879152007-01-26T13:45:00.000-08:002008-12-10T09:31:41.407-08:00<p align="center"><strong><span style="font-size:130%;">A Vergonha da Bandeira</span></strong></p><p align="center">É noite. Sobe aos ares a lua em crescente... branca e medrosa. A atmosfera estremece a umas vibrações quase insensiveis. Dorme o oceano na sonolência da calmaria, e o céu, de uma serenidade tocante, mira-se como que sorrindo nas ondulações demoradas que ora se lhe alteiam no dorso ora baixam, como se sonhasse com tempestades. O luar solta nas águas cobrinhas de prata e do céu algumas estrelas vivazes espiam-nas... </p><p align="center">O que é aquele objeto negro que flutua pelas ondas, vagaroso, pesado?... Um féretro a boiar? Não, é um navio. O que leva? A morte? Não, o cativeiro... Ali vai... Esguios sobem os mastros do convés e as velas pendem das vergas em longas dobras, imitando a ramagem chorosa dos ciprestes. Parece uma necrópole... Mas não! Há sombras vagueando... Serão espectros? Não; é uma tripulação. Em tudo a cor dos antros. As velas são negras, negros os mastros, negra a tripulação... O navio negro! No meio do convés há um ponto onde como que se coagulam as trevas. Ponto escuro na escuridão. Rasga-se qual a boca de uma sepultura. É uma escoltilha. Não é a boca de uma cova, porque foi vivo quem passou por ela. É a porta do inferno. Entrando por aí, cai-se na escravidão.</p><p align="center">De dentro sai um rumor... Se os cadáveres falassem, falariam assim. O porão ecoa, repercutindo a algazarra lúgubre. São gritos, gemidos, gargalhadas... Um concerto infernal, regido pelo desespero. E tudo nas trevas. A lua quer entrar pela abertura. Os raios se apagam na entrada. O abismo repele a claridade. Esse porão é um abismo. Não pode haver luz no túmulo. Esse porão é um tumulo de vivos. De repente à escoltilha aparece uma coisa. É uma cabeça, são umas espáduas, uns braços... um corpo.</p><p align="center">Horrível! Os olhos não tem luz; a cara é preta, desmaiando para amarelo; as comissuras da boca estão arregaçadas; uns dentes brancos, pontudos, entremostram-se cerrados. A boca profere uma blasfêmia tácita: nos lábios a ironia, nos dentes a raiva. O corpo cai para um lado, pesadamente flácido. um dos espectros que vagueavam chega-se. Ri-se. Agarra o cadáver. Ri-se... os punhos estão mordidos, as artérias rotas... </p><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgig10snGY5kMZCv8EycybQy_T8iockY6YzrWAtytGkFuTrxxBonWqIlDJWnuXATb4uc1HkQSdDZzqJ7DJley-POhpXlm3qHL8TwvKnCAr6z-gTiHhWPExMKIskClOns6PsXYZOCPoOaETV/s1600-h/redeini3.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5024718079752098210" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgig10snGY5kMZCv8EycybQy_T8iockY6YzrWAtytGkFuTrxxBonWqIlDJWnuXATb4uc1HkQSdDZzqJ7DJley-POhpXlm3qHL8TwvKnCAr6z-gTiHhWPExMKIskClOns6PsXYZOCPoOaETV/s400/redeini3.jpg" border="0" /></a><br /><p align="center">À popa do navio há um rebolíço medonho. Umas formas escamosas, longas, brilham à lua, serpeando num turbilhão de escuma... É a festa dos tubarões. E o navio avança vagaroso, tétrico. Vai para a América. Transporta escravos...Vil barcaça carregando a vergonha de uma ação! Por sobre essa imundície há alguma coisa. Enruga-se. Parece querer fugir ao clarão da lua. Estreita-se. Quer com certeza passar desapercebida... O que é? Vejamos. É um pano sujo? Não; é uma bandeira. O barco representa uma piramide de infâmia. O vértice é a bandeira.</p><p align="center">--</p><p align="center">Confrange-te, coração patriota, ante esta fotopintura do passado... Aquela bandeira era o emblema predestinado do Brasil. Estranhas oscilações das coisas do mundo! Aquele farrapo, tão pequeno, que abrigava o negreiro, foi depois tão grande que amortalhou falanges de heróis. Dir-se-iam que não tinham fé no futuro os que o emprestaram ao negreiro. Embora. Num emblema não se escarra. Foi o que fizeram.... Profanaram. Os bravos de Riachuelo e Tuiuti tentaram disfarçar a profanação. Moribundos, beijavam a bandeira. Em vão.</p><p align="center">Crivaram-na de estrelas, mas a mancha ficou. As estrelas não eliminam a noite. Para um mal como a noite, só um remédio como o sol. Sobre a bandeira nacional está a noite da vergonha: a mancha da profanação. É esta a sua melancolia até nos momentos de júbilo. Quando raiar a aurora da desafronta é que o pendão auri-verde há de expandir-se. Apagai da história o romance lúgubre da escravidão, que lhes ide escrevendo à margem. E apagá-lo-eis, parando porque quem para no atentado está arrependido, e às águas salutares do arrependimento nada resiste.</p><p align="center"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/01/raul-pompia.html">Raul Pompéia</a></p><p align="justify"><em>Ps: Raul Pompéia escreveu este texto aos 17 anos de idade. O seu ponto de vista se solidificaria e não mais mudaria. Tornou-se escravagista obstinado, dos maiores que a campanha do Abolicionismo acolheu.</em></p>Mirandahttp://www.blogger.com/profile/13900647497462195491noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1225065877890864064.post-16456243348899244252007-01-23T07:30:00.000-08:002008-12-10T09:31:41.548-08:00Raul Pompéia<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQcXnd-7_Q4lH0lZY91BMJ9On0lcMVvwIsgX4mJlrItG5wzRmkKy3GkA4kD_PaFHKAGRhWXwN530Br9CWd4_qDSMYFjRDL9s_tan4I4g2QOqeJjyfYWr7CTjZfX9SqdFp_WBZV4QFcmc-R/s1600-h/raulpompeia.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5023237114898895154" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQcXnd-7_Q4lH0lZY91BMJ9On0lcMVvwIsgX4mJlrItG5wzRmkKy3GkA4kD_PaFHKAGRhWXwN530Br9CWd4_qDSMYFjRDL9s_tan4I4g2QOqeJjyfYWr7CTjZfX9SqdFp_WBZV4QFcmc-R/s400/raulpompeia.jpg" border="0" /></a> <p align="center"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/01/vergonha-da-bandeira-noite.html">A Vergonha da Bandeira</a></p><p align="center"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/01/tona-dgua.html">À Tona D'Água</a></p><p align="center"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/01/raul-pompia-notas.html">Notas</a></p><p align="justify">Raul Pompéia (R. de Ávila P.), jornalista, contista, cronista, novelista e romancista, nasceu em Jacuecanga, Angra dos Reis, RJ, em 12 de abril de 1863, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 25 de dezembro de 1895. É o patrono da Cadeira nº 33, por escolha do fundador Domício da Gama.</p><p align="justify">Era filho de Antônio de Ávila Pompéia, homem de recursos e advogado, e de Rosa Teixeira Pompéia. Transferiu-se cedo, com a família, para a Corte e foi internado no Colégio Abílio, dirigido pelo educador Abílio César Borges, o barão de Macaúbas, estabelecimento de ensino que adquirira grande nomeada. Passando do ambiente familiar austero e fechado para a vida no internato, recebeu Raul Pompéia um choque profundo no contato com estranhos. Logo se distingue como aluno aplicado, com o gosto dos estudos e leituras, bom desenhista e caricaturista, que redigia e ilustrava do próprio punho o jornalzinho O Archote. Em 1879, transferiu-se para o Colégio Pedro II, para fazer os preparatórios, e onde se projetou como orador e publicou o seu primeiro livro, Uma tragédia no Amazonas (1880).</p><p align="justify">Em 1881 começou o curso de Direito em São Paulo, entrando em contato com o ambiente literário e as idéias reformistas da época. Engajou-se nas campanhas abolicionista e republicana, tanto nas atividades acadêmicas como na imprensa. Tornou-se amigo de Luís Gama, o famoso abolicionista. Escreveu em jornais de São Paulo e do Rio de Janeiro, freqüentemente sob o pseudônimo "Rapp", um dentre os muitos que depois adotaria: Pompeu Stell, Um moço do povo, Y, Niomey e Hygdard, R., ?, Lauro, Fabricius, Raul D., Raulino Palma. Ainda em São Paulo publicou, no Jornal do Commercio, as "Canções sem metro", poemas em prosa, parte das quais foi reunida em volume, de edição póstuma. Também, em folhetins da Gazeta de Notícias, publicou a novela As jóias da Coroa.</p><p align="justify">Reprovado no 3º ano (1883), seguiu com 93 acadêmicos para o Recife e ali concluiu o curso de Direito, mas não exerceu a advocacia. De volta ao Rio de Janeiro, em 1885, dedicou-se ao jornalismo, escrevendo crônicas, folhetins, artigos, contos e participando da vida boêmia das rodas intelectuais. Nos momentos de folga, escreveu O Ateneu, "crônica de saudades", romance de cunho autobiográfico, narrado em primeira pessoa, contando o drama de um menino que, arrancado ao lar, é colocado num internato da época. Publicou-o em 1888, primeiro em folhetins, na Gazeta de Notícias, e, logo a seguir, em livro, que o consagra definitivamente como escritor.</p><p align="justify"></p><p align="justify">Decretada a abolição, em que se empenhara, passou a dedicar-se à campanha favorável à implantação da República. Em 1889, colaborou em A Rua, de Pardal Mallet, e no Jornal do Commercio. Proclamada a República, foi nomeado professor de mitologia da Escola de Belas Artes e, logo a seguir, diretor da Biblioteca Nacional. No jornalismo, revelou-se um florianista exaltado, em oposição a intelectuais do seu grupo, como Pardal Mallet e Olavo Bilac. Numa das discussões, surgiu um duelo entre Bilac e Pompéia. Combatia o cosmopolitismo, achando que o militarismo, encarnado por Floriano Peixoto, constituía a defesa da pátria em perigo. Referindo-se à luta entre portugueses e ingleses, desenhou uma de suas melhores charges: "O Brasil crucificado entre dois ladrões". Com a morte de Floriano, em 1895, foi demitido da direção da Biblioteca Nacional, acusado de desacatar a pessoa do Presidente no explosivo discurso pronunciado em seu enterro. Rompido com amigos, caluniado em artigo de Luís Murat, sentindo-se desdenhado por toda parte, inclusive dentro do jornal A Notícia, que não publicara o segundo artigo de sua colaboração, pôs fim à vida no dia de Natal de 1895. </p><p align="justify">A posição de Raul Pompéia na literatura brasileira é controvertida. A princípio a crítica o julgou pertencente ao Naturalismo, mas as qualidades artísticas presentes em sua obra fazem-no aproximar-se do Simbolismo, ficando a sua arte como a expressão típica, na literatura brasileira, do estilo impressionista. </p><p align="justify">Obras: Uma tragédia no Amazonas, novela (1880); As jóias da coroa, novela (1882); Canções sem metro, poemas em prosa (1883); O Ateneu, romance (1888). A obra completa de Raul Pompéia está reunida em Obras, org. de Afrânio Coutinho, 10 vols. (1981-1984). </p><p align="justify">Fonte: <a href="http://www.casadobruxo.com.br" target="_blank">Casa do Bruxo</a></p>Mirandahttp://www.blogger.com/profile/13900647497462195491noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1225065877890864064.post-242891584225472162007-01-23T07:12:00.000-08:002007-01-23T08:03:28.213-08:00À Tona D'Água<p align="center">I</p><p align="center"><em>Microscópicos</em></p><p align="justify">Há crepúsculos que parecem desmaios. Olha-se para cima e vê-se o firmamento pálido; o Ocidente apresenta a expressão vaga do olhar da criança que se faz mulher e que sofre a transição. Parece que uma nota de espanto percorre a natureza...<br />Segue-se depois a noite, a escuridão, o desfalecimento da luz.<br />A alma compreende que a noite é uma ausência. Vai além. Apalpa esta ausência. É deleitoso. Tem-se os olhos abertos e sonha-se. Os espetáculos são panoramas de fumaça; e sempre nessa confusão de escuros e meias-sombras destaca-se um ponto. Quem vê este ponto é o coração.<br />Perguntem-no aos amantes.<br />Rosália estava vendo um crepúsculo assim; e esperava ansiosa pela noite... à praia.</p><p align="center">II</p><p align="justify">Resvala a canoa macia como a nuvem à flor do céu... Rosália já está com ele. Só quem os vê é a noite. O remeiro canta distraído uma barcarola por trás do estofo que os encobre.<br />E vão...</p><p align="center">III</p><p align="justify">Trocam olhares que os prendem como elos de doces cadeias. Apertam-se as mãos e sentem que possuem alguma coisa de comum que lhes circula pelo corpo delisiosamente. Parece-lhes que possuem o mesmo sangue, porque possuem o mesmo fogo, vivificando a dormência que os acalenta. São dois que se amam de um só amor; mas conhecem-no apenas, porque se sabem amantes e o amor exige duplicidade.</p><p align="center">IV</p><p align="justify">A quilha do barquinho rasga sem ruído a toalha alisada do mar, e os gravetos flutuantes vão-lhe ficando na esteira. Por essa hora, vai a emergir no ocaso um estilhaço de lua que dissolve ainda pelas travas uma claridade morta. Rosalia vê à proa do barco uma pequena lâmina. <em>Vê</em> não exprime bem. Os olhos passam pelo objeto e não atentam. Mas a canoa vai e vem...<br />Rosália foge à casa paterna, nos braços do amante.</p><p align="center">V</p><p align="justify">Pela segunda vez depara com o ferro; mas agora com atenção. Aquele aço não brilha, entretanto cai sobre ele o luar. A jovem estende languidamente a mão e o segura. Violento palpita-lhe o coração.<br />Pressentimento... Ela fita profundamente o semblante amoroso do companheiro e murmura:<br />- Sangue?<br />O mancebo faz um movimento brusco. A canoa estremeceu. O remeiro vai cantando...<br />O moço que se afastara da jovem, pega-lhe nervosamente nos formosos braços, apenas formados por brandos filós e diz-lhe com os dentes cerrados, fora de si:<br />- Teu pai vinha matar-te, desgraçada!<br />E Rosália atira-se sobre ele e solta um grito de furor:<br />- Assassino, eu te amo!</p><p align="center"><em>Comédia</em>, São Paulo, 1881.</p><p align="center"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/01/raul-pompia.html">Raul Pompéia</a></p>Mirandahttp://www.blogger.com/profile/13900647497462195491noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1225065877890864064.post-79997012298025933562007-01-23T06:55:00.000-08:002007-01-23T07:12:27.816-08:00Raul Pompéia - Notas<p align="center"><strong><span style="font-family:times new roman;">Um têrço da felicidade alheia faz-se da nossa desgraça, outro têrço da desgraça dos próprios felizes. existirá efetivamente o último têrço?</span></strong></p><p align="center"><strong><span style="font-family:times new roman;">Não há imagem que valha se não interpretar um sentimento - como não há período que se salve, se não interpretar uma idéia.</span></strong></p><p align="center"><strong><span style="font-family:times new roman;">Que importa a inspiração doentia do artista se o resultado é belo? A pérola é a enfermidade de um molusco.</span></strong></p><p align="center"><strong><span style="font-family:times new roman;"><em>Fausto</em> é um libelo de pessimismo. Goethe o escreveu para mostrar as vaidades do saber humano, desfolhados ao vento com os malmequeres de Margarida. O homem ignora tudo menos o amor.</span></strong></p><p align="center"><strong><span style="font-family:times new roman;">Há no íntimo de cada espírito um poeta, como há uma bela estátua no âmago de qualquer bloco de mármore. A arte consiste em extrair ao mármore a estátua; ao espírito o poeta.</span></strong></p><p align="center"><strong><span style="font-family:times new roman;">A arte não desaparecerá nunca: o sexo é o fiador da sua eterna cotação do mundo.</span></strong></p><p align="center"><strong><span style="font-family:times new roman;">Artisticamente as sátiras dos costumes, as grandes sátiras sociais (Rabellais, Moliére), são imorais porque dão lugar, em última análise, a que se aplaudam os ridículos e vergonhas que as inspiram, sem cuja existência não teriam modelo seus belos quadros.</span></strong></p><p align="center"><strong><span style="font-family:times new roman;">A vida da espécie não é garantida pelas boas instituições, mas pelos bons amores. As insituições perniciosas se aumentam a mortalidade exacerbam o amor. A idéia da morte é um afrodisíaco poderoso. Observa-se, nas grandes cidades, que as meninas das vizinhanças dos cemitérios são as mais atiradas ao namoro.</span></strong></p><p align="center">ps: Estas notas não foram publicadas em vida do autor. Foram encontradas entre os seus papéis.</p><p align="center"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/01/raul-pompia.html">Raul Pompéia</a></p>Mirandahttp://www.blogger.com/profile/13900647497462195491noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1225065877890864064.post-53876876615320910072007-01-20T19:08:00.000-08:002008-12-10T09:31:41.866-08:00Florbela Espanca<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAkRsxzGv3LgNYn2ZgtyadynO8uWavQ0iVf8O9c7DyYuYXTFW0PNb75fsAOEkutJm7GHlxIOOdTk7RmQN7q2kjMRkj7yJt8DattvlPDiRtjSDoeEVr2y0wWfPQeGuTS5K6btAv4ZDdS18a/s1600-h/florbela.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5022315725822601522" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAkRsxzGv3LgNYn2ZgtyadynO8uWavQ0iVf8O9c7DyYuYXTFW0PNb75fsAOEkutJm7GHlxIOOdTk7RmQN7q2kjMRkj7yJt8DattvlPDiRtjSDoeEVr2y0wWfPQeGuTS5K6btAv4ZDdS18a/s320/florbela.jpg" border="0" /></a> <p align="center"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/01/anto-antnio-nobre.html">A Anto</a></p><p align="center"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/01/maior-tortura.html">A Maior Tortura</a></p><p align="center"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/01/minha-dor-voc-minha-dor-um-convento.html">A Minha Dor</a></p><p align="center"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/01/tua-voz-na-primavera.html">A Tua Voz na Primavera</a></p><p align="center"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/01/amiga.html">Amiga</a></p><p align="center"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/01/anseios-meu-doido-corao-aonde-vais-no.html">Anseios</a></p><p align="center"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/01/aos-olhos-dele.html">Aos Olhos Dele</a></p><p align="center"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/01/cegueira-bendita.html">Cegueira Bendita</a></p><p align="center"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/01/doce-certeza.html">Doce Certeza</a></p><p align="center"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/01/errante.html">Errante</a></p><p align="center"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/01/eu.html">Eu...</a></p><p align="center"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/01/mentiras.html">Mentiras</a></p><p align="center"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/01/noite-trgica.html">Noite Trágica</a></p><p align="center"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/01/ser-poeta.html">Ser Poeta</a></p><p align="center"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/01/tortura.html">Tortura</a></p><p align="center"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/01/vaidade.html">Vaidade</a></p><p align="center"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/01/versos.html">Versos</a></p><p align="center"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/01/vulces.html">Vulcões</a></p><p align="justify">Poetisa portuguesa, natural de Vila Viçosa (Alentejo). Nasceu filha ilegítima de João Maria Espanca e de Antónia da Conceição Lobo, criada de servir (como se dizia na época), que morreu com apenas 36 anos, «de uma doença que ninguém entendeu», mas que veio designada na certidão de óbito como nevrose. Registada como filha de pai incógnito, foi todavia educada pelo pai e pela madrasta, Mariana Espanca, em Vila Viçosa, tal como seu irmão de sangue, Apeles Espanca, nascido em 1897 e registado da mesma maneira. Note-se como curiosidade que o pai, que sempre a acompanhou, só 19 anos após a morte da poetisa, por altura da inauguração do seu busto, em Évora, e por insistência de um grupo de florbelianos, a perfilhou.</p><p align="justify">Estudou no liceu de Évora, mas só depois do seu casamento (1913) com Alberto Moutinho concluiu, em 1917, a secção de Letras do Curso dos Liceus. Em Outubro desse mesmo ano matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, que passou a frequentar. Na capital, contactou com outros poetas da época e com o grupo de mulheres escritoras que então procurava impor-se. Colaborou em jornais e revistas, entre os quais o Portugal Feminino. Em 1919, quando frequentava o terceiro ano de Direito, publicou a sua primeira obra poética, Livro de Mágoas. Em 1921, divorciou-se de Alberto Moutinho, de quem vivia separada havia alguns anos, e voltou a casar, no Porto, com o oficial de artilharia António Guimarães. Nesse ano também o seu pai se divorciou, para casar, no ano seguinte, com Henriqueta Almeida. Em 1923, publicou o Livro de Sóror Saudade. Em 1925, Florbela casou-se, pela terceira vez, com o médico Mário Laje, em Matosinhos.</p><p align="justify">Os casamentos falhados, assim como as desilusões amorosas, em geral, e a morte do irmão, Apeles Espanca (a quem Florbela estava ligada por fortes laços afectivos), num acidente com o avião que tripulava sobre o rio Tejo, em 1927, marcaram profundamente a sua vida e obra. Em Dezembro de 1930, agravados os problemas de saúde, sobretudo de ordem psicológica, Florbela morreu em Matosinhos, tendo sido apresentada como causa da morte, oficialmente, um «edema pulmonar». </p><p align="justify">Postumamente foram publicadas as obras Charneca em Flor (1930), Cartas de Florbela Espanca, por Guido Battelli (1930), Juvenília (1930), As Marcas do Destino (1931, contos), Cartas de Florbela Espanca, por Azinhal Botelho e José Emídio Amaro (1949) e Diário do Último Ano Seguido De Um Poema Sem Título, com prefácio de Natália Correia (1981). O livro de contos Dominó Preto ou Dominó Negro, várias vezes anunciado (1931, 1967), seria publicado em 1982.</p><p align="justify">A poesia de Florbela caracteriza-se pela recorrência dos temas do sofrimento, da solidão, do desencanto, aliados a uma imensa ternura e a um desejo de felicidade e plenitude que só poderão ser alcançados no absoluto, no infinito. A veemência passional da sua linguagem, marcadamente pessoal, centrada nas suas próprias frustrações e anseios, é de um sensualismo muitas vezes erótico. Simultaneamente, a paisagem da charneca alentejana está presente em muitas das suas imagens e poemas, transbordando a convulsão interior da poetisa para a natureza.</p><p align="justify">Florbela Espanca não se ligou claramente a qualquer movimento literário. Está mais perto do neo-romantismo e de certos poetas de fim-de-século, portugueses e estrangeiros, que da revolução dos modernistas, a que foi alheia. Pelo carácter confessional, sentimental, da sua poesia, segue a linha de António Nobre, facto reconhecido pela poetisa. Por outro lado, a técnica do soneto, que a celebrizou, é, sobretudo, influência de Antero de Quental e, mais longinquamente, de Camões. </p><p align="justify">Poetisa de excessos, cultivou exacerbadamente a paixão, com voz marcadamente feminina (em que alguns críticos encontram dom-joanismo no feminino). A sua poesia, mesmo pecando por vezes por algum convencionalismo, tem suscitado interesse contínuo de leitores e investigadores. É tida como a grande figura feminina das primeiras décadas da literatura portuguesa do século XX.</p><p align="justify">Fonte: <a href="http://www.astormentas.com/" target="_blank">As Tormentas</a></p>Mirandahttp://www.blogger.com/profile/13900647497462195491noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1225065877890864064.post-76431110654259106752007-01-19T06:11:00.000-08:002007-01-20T19:48:20.298-08:00Anseios<p align="center">Meu doido coração aonde vais,<br />No teu imenso anseio de liberdade?<br />Toma cautela com a realidade;<br />Meu pobre coração olha que cais!</p><p align="center">Deixa-te estar quietinho! Não amais<br />A doce quietação da soledade?<br />Tuas lindas quimeras irreais,<br />Não valem o prazer duma saudade!</p><p align="center">Tu chamas ao meu seio, negra prisão!<br />Ai, vê lá bem, ó doido coração,<br />Não te deslumbres o brilho do luar!...</p><p align="center">Não 'stendas tuas asas para o longe...<br />Deixa-te estar quietinho, triste monge,<br />Na paz da tua cela,a soluçar...</p><p align="center"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/01/florbela-espanca.html">Florbela Espanca</a></p>Mirandahttp://www.blogger.com/profile/13900647497462195491noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1225065877890864064.post-76715053363403727322007-01-19T06:08:00.000-08:002008-12-10T09:31:42.033-08:00A Anto (António Nobre)<p align="center"><a href="http://www.mundocultural.com.br/index.asp?url=http://www.mundocultural.com.br/literatura1/simbolismo/nobre.htm" target="_blank"><img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjCQhaUbvWeiGa1mxDKe-vA9h-x93B0ZNb-UO_QDLk7KQUC1dtZZVRol9m45Lcsom2zOuZ60nZSyMUTsKyy_eHVUkA6wO3mdLWh96243wDybgn7XYzjhkpWVyWBC-ecpTg80sY-iZICMUs/s400/nobre.jpg" border="0" /></a></p><p align="center">Poeta da saudade ó meu poeta qu'rido<br />Que a morte arrebatou em seu sorrir fatal,<br />Ao escrever o Só pensaste enternecido<br />Que era o mais triste livro deste Portugal,</p><p align="center">Pensaste nos que liam esse teu missal,<br />Tua bíblia de dor, o teu chorar sentido<br />Temeste que esse altar pudesse fazer mal<br />Aos que comungam nele a soluçar contigo!</p><p align="center">Ó Anto! Eu adoro os teus estranhos versos,<br />Soluços que eu uni e que senti dispersos<br />Por todo o livro triste! Achei teu coração...</p><p align="center">Amo-te como não te quis nunca ninguém,<br />Como se eu fosse, ó Anto, a tua própria mãe<br />Beijando-te já frio no fundo do caixão!</p><br /><p align="center"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/01/florbela-espanca.html">Florbela Espanca</a></p>Mirandahttp://www.blogger.com/profile/13900647497462195491noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1225065877890864064.post-38819751859716703622007-01-19T06:06:00.000-08:002007-01-20T19:47:50.437-08:00Vulcões<p align="center">Tudo é frio e gelado. O gume dum punhal<br />Não tem a lividez sinistra da montanha<br />Quando a noite a inunda dum manto sem igual<br />De neve branca e fria onde o luar se banha.</p><p align="center">No entanto que fogo, que lavas, a montanha<br />Oculta no seu seio de lividez fatal!<br />Tudo é quente lá dentro... e que paixão tamanha<br />A fria neve envolve em seu vestido ideal!</p><p align="center">No gelo da indiferença ocultam-se as paixões<br />Como no gelo frio do cume da montanha<br />Se oculta a lava quente do seio dos vulcões...</p><p align="center">Assim quando te falo alegre, friamente,<br />Sem um tremor de voz, mal sabes tu que estranha<br />Paixão palpita e ruge em mim doida e fremente!</p><p align="center"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/01/florbela-espanca.html">Florbela Espanca</a></p>Mirandahttp://www.blogger.com/profile/13900647497462195491noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1225065877890864064.post-26344717644799565162007-01-19T06:03:00.000-08:002007-01-20T19:47:28.225-08:00A Maior Tortura<p align="center">Na vida, para mim, não há deleite.<br />Ando a chorar convulsa noite e dia...<br />E não tenho uma sombra fugidia<br />Onde poise a cabeça, onde me deite!</p><p align="center">E nem flor de lilás tenho que enfeite<br />A minha atroz, imensa nostalgia!...<br />A minha pobre Mãe tão branca e fria<br />Deu-me a beber a Mágoa no seu leite!</p><p align="center">Poeta, eu sou um cardo desprezado,<br />A urze que se pisa sob os pés.<br />Sou, como tu, um riso desgraçado!</p><p align="center">Mas a minha tortura inda é maior:<br />Não ser poeta assim como tu és<br />Para gritar num verso a minha Dor!...</p><p align="center"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/01/florbela-espanca.html">Florbela Espanca</a></p>Mirandahttp://www.blogger.com/profile/13900647497462195491noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1225065877890864064.post-35640093397749313032007-01-19T05:59:00.000-08:002007-01-20T19:47:15.924-08:00Vaidade<p align="center">Sonho que sou a Poetisa eleita,<br />Aquela que diz tudo e tudo sabe,<br />Que tem a inspiração pura e perfeita,<br />Que reúne num verso a imensidade!</p><p align="center">Sonho que um verso meu tem claridade<br />Para encher todo o mundo! E que deleita<br />Mesmo aqueles que morrem de saudade!<br />Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!</p><p align="center">Sonho que sou Alguém cá neste mundo...<br />Aquela de saber vasto e profundo,<br />Aos pés de quem a Terra anda curvada!</p><p align="center">E quando mais no céu eu vou sonhando,<br />E quando mais no alto ando voando,<br />Acordo do meu sonho... E não sou nada!...</p><p align="center"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/01/florbela-espanca.html">Florbela Espanca</a></p>Mirandahttp://www.blogger.com/profile/13900647497462195491noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1225065877890864064.post-42228739825459014772007-01-19T05:57:00.000-08:002007-01-20T19:47:01.219-08:00Ser Poeta<p align="center">Ser poeta é ser mais alto, é ser maior<br />Do que os homens! Morder como quem beija!<br />É ser mendigo e dar como quem seja<br />Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!</p><p align="center">É ter de mil desejos o esplendor<br />E não saber sequer que se deseja!<br />É ter cá dentro um astro que flameja,<br />É ter garras e asas de condor!</p><p align="center">É ter fome, é ter sede de Infinito!<br />Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...<br />é condensar o mundo num só grito!</p><p align="center">E é amar-te, assim, perdidamente...<br />É seres alma, e sangue, e vida em mim<br />E dizê-lo cantando a toda a gente!</p><p align="center"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/01/florbela-espanca.html">Florbela Espanca</a></p>Mirandahttp://www.blogger.com/profile/13900647497462195491noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1225065877890864064.post-57058079563682376802007-01-19T05:53:00.000-08:002007-01-20T19:46:47.214-08:00Amiga<p align="center">Deixa-me ser a tua amiga, Amor,<br />A tua amiga só, já que não queres<br />Que pelo teu amor seja a melhor<br />A mais triste de todas as mulheres.</p><p align="center">Que só, de ti, me venha magoa e dor<br />O que me importa a mim? O que quiseres<br />É sempre um sonho bom! Seja o que for,<br />Bendito sejas tu por mo dizeres!</p><p align="center">Beijá-me as mãos, Amor, devagarinho...<br />Como se os dois nascessemos irmãos,<br />Aves cantando, ao sol, no mesmo ninho...</p><p align="center">Beija-mas bem!... Que fantasia louca<br />Guardar assim, fechados, nestas mãos,<br />Os beijos que sonhei pra minha boca!...</p><p align="center"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/01/florbela-espanca.html">Florbela Espanca</a></p>Mirandahttp://www.blogger.com/profile/13900647497462195491noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1225065877890864064.post-11264324947910226212007-01-19T05:47:00.000-08:002007-01-20T19:46:19.213-08:00A Minha Dor<p align="right"><em>A Você</em></p><p align="center">A minha dor é um convento ideal<br />Cheio de claustros, sombras, arcarias,<br />Aonde a pedra em convulsões sombrias<br />Tem linhas dum requinte escultural.</p><p align="center">Os sinos tem dobres d'agonia<br />Ao gemer, comovidos, o seu mal...<br />E todos têm sons de funeral<br />Ao bater horas, no correr dos dias...</p><p align="center">A minha dor é um convento. Há lírios<br />Dum roxo macerado de martírios,<br />Tão belos como nunca os viu alguém!</p><p align="center">Nesse triste convento aonde eu moro,<br />Noites e dias rezo e grito e choro!<br />E ninguém ouve... ninguém vê... ninguém...</p><p align="center"><a href="http://versosescolhidos.blogspot.com/2007/01/florbela-espanca.html">Florbela Espanca</a></p>Mirandahttp://www.blogger.com/profile/13900647497462195491noreply@blogger.com0